A humilhação pela mentira, por Marco Piva

Existem brasileiros que trafegam numa outra frequência de apreensão da informação, moldando a realidade a seu gosto e desejo

Valter Campanato – Agência Brasil

A humilhação pela mentira

por Marco Piva

Chega a ser inacreditável que pessoas com algum nível de instrução possam tomar como verdade aquilo que expressamente é mentira. É o caso de uma fakenews que circula nas redes sociais afirmando que o presidente Lula não foi aplaudido em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU.
https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2023/09/26/e-falso-que-ninguem-aplaudiu-lula-em-discurso-na-onu

Numa manipulação grosseira de um vídeo original feito pelo jornalista Samuel Pancher, do portal Metrópoles, o desconhecido autor da fakenews “prova” o silêncio durante a participação do presidente brasileiro. Ocorre que vários veículos de imprensa noticiaram com imagens, sons e textos que Lula foi aplaudido sete vezes, superando, inclusive, o número de vezes concedido ao mandatário norte-americano, Joe Biden. A prova está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Srtknv8wV5Q

O primo Basílio, aquele que insiste em ver o mundo apenas a partir da sua cognição diminuta, diz que houve manipulação, sim. Mas, da chamada grande imprensa, Globo à frente, toda ela favorável ao comunismo e, portanto, ao PT.

Que estamos em meio a uma revolução tecnológica que mexe com as nossas emoções e sentidos, não resta a menor dúvida. Que ainda passaremos um bom tempo para nos adaptar às novas formas de comunicação, também é inegável. O que talvez eu não sabia, em minha modesta ignorância, é que existem brasileiros que trafegam numa outra frequência de apreensão da informação, moldando a realidade a seu gosto e desejo.

E aí mora o perigo. Pessoas como o primo Basilio, ao verem uma realidade que não satisfaz os seus desejos, revelados em repugnantes manifestações de intolerância, apostam no caos e na violência como forma de derrotar seus inimigos. Já não importa a eles a acumulação civilizatória da humanidade que, entre trancos e barrancos, produziu conquistas importantes.

Quando “bagrinhos” são condenados a penas de até 17 anos de prisão em regime fechado pela participação nos atos de vandalismo no dia 8 de janeiro, em Brasília, não há que se ter um sentimento de pena. Precisamos olhar aquele episódio, tão bem chamado como “dia sombrio” pela ministra do STF, Rosa Weber, de forma didática, educativa mesmo, para um povo que ainda caminha lentamente para se apropriar do seu próprio destino.

São nesses momentos da História que vemos a elitização da barbárie que confere aos “bagrinhos” o papel de executores, enquanto os incentivadores e financiadores da aventura golpista têm a expectativa de saírem livres do processo arrotando uma falsa condição de “patriotas”.

O Brasil precisa de muito mais. Mais consciência política, mais conhecimento, mais tolerância e mais sentimento de solidariedade e justiça. Sem isso, viveremos sob a ameaça permanente do distúrbio de cognição do primo Basílio que não sabe diferenciar a mentira da realidade, numa humilhante condição de sabujo dos sabotadores da nação.

Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino (Rádio USP) e pesquisador do Centro de Estudos Latino-americanos de Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo (Celacc-USP).  

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador